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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Desperte o prazer pela leitura em seus alunos.

Para educadores: Prazer de ler
Fabrício D. Viana

Muitos professores com sua boa intenção de "ensinar" acabam  cometendo erros gravíssimos quando o assunto é "ensinar a ler".  Boa parte, com sua formação intelectual, acham que livros de Machado de Assis, Lima Barreto ou Euclides da Cunha são e devem ser lidos por estudantes do ensino fundamental, como um "estímulo" para a prática da leitura.

O mundo gira e dá voltas, nós mudamos e as coisas também. Hoje não, mas quando pequeno lembro-me que ODIAVA LER qualquer coisa, principalmente livros chatos que aqueles professores adoravam passar para "fazer resumo".
Que coisa absurda era fazer aquilo. Leitura difícil e textos complicados. Lembro-me que, a cada novo livro, existiam duas perguntas básicas. A primeira era: quantas páginas tem o livro? E a segunda: qual o tamanho da letra? Se a letra fosse grande e tivesse poucas páginas, dava pra tentar encarar. Se tivesse muitas páginas ou a letra fosse pequena, nem pensar, a idéia era copiar "diferente" de alguém ou pedir pra quem já leu fazer o bendito resumo do livro.

Sim, esta é a realidade do nosso Brasil, o que eu já fiz, muita gente já fez e mais um monte ainda está fazendo, e outros tantos irão fazer.
A culpa disso tudo? Acredito que grande parte vem do "despreparo" de alguns professores. O que me motiva, e muito, a escrever este artigo.
Muitos professores com sua boa intenção de "ensinar" acabam cometendo erros gravíssimos quando o assunto é "ensinar a ler". Boa parte, com sua formação intelectual, acham que livros de Machado de Assis, Lima Barreto ou Euclides da Cunha são e devem ser lidos por estudantes do ensino fundamental, como um "estímulo" para a prática da leitura. Concordo, são obras que merecem atenção de todo indivíduo que se julgue brasileiro e levar estes títulos para seus alunos é uma boa missão. Mas, avaliar o momento correto de introduzir tal leitura, também. Essa é minha principal crítica.
Como assim? Acredito que tudo seja um processo. Para andar, você balança o corpo para um lado e para o outro, depois de algum tempo, você já está engatinhando e em seguida, dando os primeiros passos. Na leitura, é a mesma coisa. Primeiro precisamos despertar o interesse, depois o prazer pela leitura e só em seguida partir para leituras mais complicadas.
Imagine, por exemplo, um aluno do ensino fundamental que precisa fazer um resumo do livro "O Cortiço" porque seu professor pediu. Se ele tiver o mesmo perfil que muitos estudantes de nosso país tem, aversão à leitura, com certeza terá muita dificuldade para ler este maravilhoso livro. Não porque ele seja burro ou ainda porque não tenha capacidade de simbolizar ou de interpretar fatos e histórias, mas sim porque ele não tem o "básico", que é o PRAZER DE LER.
Dar um livro que não corresponde com sua realidade e que a leitura seja "pesada", isto é, precisa ser lido e relido, parágrafo por parágrafo, para entender as idéias de seu autor, para quem não gosta de ler é tarefa difícil. E, depois, a culpa é jogada no próprio e infeliz aluno, afinal, é "ele que não gosta de ler".
Outro dia, veio um amigo aqui em casa, 17 anos. Típico adolescente. Ao ver meus livros na estante, perguntou "por perguntar" se tinha algum livro interessante para indicar. A primeira coisa que perguntei foi se ele gostava de ler. Disse que não. Pensei, bom, 17 anos é uma fase de descobrimentos, de se "auto-conhecer", acho que o livro Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach é uma boa escolha. Afinal, livro pequeno, letras grandes, poucas páginas e muitas figuras. Peguei o livro e dei em sua mão, dizendo para que lesse a história e que ela falava de uma gaivota, mas que ele não deveria pensar como gaivota, que deveria imaginar a gaivota como se fosse uma PESSOA. Esta gaivota vai fazer várias coisas, disse, inclusive com outras gaivotas, com OUTRAS PESSOAS. Quando ler, lembre-se de levar isso pro dia-dia, imagine sempre as pessoas, a sociedade e tenha uma boa leitura.
Para quem já leu Fernão Capelo Gaivota sabe do que falo. Uma bela história. Rica em vida, de fácil leitura e que não exige muito. Ele foi embora e no outro dia apareceu, com o livro lido por inteiro. Disse que gostou muito e perguntou se tinha outro para indicar. Neste momento seu irmão que o acompanhava falou: "Nossa, e aqueles dois livros que eu passei para você ler, você vai ler o dele e não os meus?". Então perguntei a ele quais livros teria recomendado. Ele me disse que um deles foi DOM CASMURRO. Falei, bom, esta explicado, dar Dom Casmurro pra quem não gosta de ler é a mesma coisa de dizer NÃO LEIA. Não adianta nada recomendar. A história é boa, mas a leitura de Dom Casmurro exige um pouco, coisa que um "principiante" na arte de ler ainda não tem. Em seguida tirei da minha "mini-biblioteca" o livro "Como educar seus pais", do grupo Obrigado Esparro. É um livro voltado para adolescentes. Não diz nada com nada, tem várias piadinhas infames e, ao mesmo tempo, representa de forma bem humorada a realidade de todo adolescente.
Dois dias depois, reencontro ele em um teatro, no final de uma peça em que eu e seu irmão estávamos representando. Ele, todo empolgado, me disse que tinha adorado o livro e já tinha lido duas vezes, do início ao fim, e que viria em casa buscar mais.
Esta é só uma das histórias de tantas outras parecidas. Quem me conhece sabe que adoro recomendar livros. Minha experiência diz que, se você é professor, se você é um pai, se você quer que alguém leia alguma coisa, algum livro, antes de qualquer coisa precisa despertar o PRAZER pela leitura. Desperte o INTERESSE e a CURIOSIDADE. Indique livros que correspondam com sua realidade, livros que sejam fáceis, livros que você pense, bom, é a cara dele, ele vai gostar porque eu sei mais ou menos do que ele gosta, do que ele busca e procura. E não se prenda apenas em livros, tenho amigos que aprenderam a gostar de ler lendo GIBIS quando crianças.
Não é tarefa fácil criar este "desejo" pela leitura, sei disso. E nem acho justo tentarmos "converter" todo mundo para este universo de papel, letras, histórias e idéias. Afinal, uma coisa que aprendi muito bem é que, o que é bom pra mim, pode não ser bom para o outro. Mas, como eu conheço bem a realidade de nosso país, que nosso ensino público é péssimo e que temos professores despreparados formando brasileiros completamente alienados, acho que devemos cometer tal "atrocidade". Devemos sim insistir que nosso povo tenha o prazer de ler. Pois assim, através da leitura, poderão se descobrir, conhecer a história da humanidade, saber como as coisas funcionam, saber mais de si mesmos e do mundo que se encontra em sua volta. E todos nós, professores ou não, somos responsáveis pela educação, pela conscientização, por batalhar por uma sociedade cada vez melhor. Portanto, se você é professor, não "mate" o PRAZER DE LER de seus alunos, dê livros fáceis de ler antes dos "difíceis", pergunte antes o que gostariam de ler e nunca, jamais, force qualquer barra. Você tem um grande instrumento em mãos que é o ofício de ENSINAR, portanto, não desperdice isso. Afinal, cada aluno "convertido" para a ARTE DA LEITURA é um potencial cidadão e agente transformador de si mesmo e do mundo que se encontra a sua volta.
Sobre o autor:
Fabrício D. Viana (www.fabricioviana.hpg.com.br) é escritor, humanista, ator, bacharel em  psicologia e profissional de marketing e negócios, trabalha com Internet desde 1995 passando por empresas de tecnologia e recursos humanos.